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ATIVIDADE 1ºA PROFº CLAUDETE - PORTUGUÊS




Escola :Santos Dias

Prof.ª: Claudete

Disciplina: Português

Série: 1A

Exercícios referente a 5 aulas

Devolução das atividades pelo Google Classroom Código da turma otwb343

1ºA Conto: UMA GALINHA

Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque não passava de nove horas da

manhã.

Parecia calma. Desde sábado encolhera-se num canto da cozinha. Não olhava

para ninguém, ninguém olhava para ela. Mesmo quando a escolheram, apalpando sua

intimidade com indiferença, não souberam dizer se era gorda ou magra. Nunca se

adivinharia nela um anseio.

Foi, pois, uma surpresa quando a viram abrir as asas de curto voo, inchar o peito

e, em dois ou três lances, alcançar a murada do terraço. Um instante ainda vacilou — o

tempo de a cozinheira dar um grito — e em breve estava no terraço do vizinho, de onde,

em outro voo desajeitado, alcançou um telhado. Lá ficou em adorno deslocado,

hesitando ora num, ora noutro pé. A família foi chamada com urgência e consternada

viu o almoço junto de uma chaminé. O dono da casa, lembrando-se da dupla

necessidade de fazer esporadicamente algum esporte e de almoçar, vestiu radiante um

calção de banho e resolveu seguir o itinerário da galinha: em pulos cautelosos alcançou

o telhado onde esta, hesitante e trêmula, escolhia com urgência outro rumo. A

perseguição tornou-se mais intensa. De telhado a telhado foi percorrido mais de um

quarteirão da rua. Pouco afeita a uma luta mais selvagem pela vida, a galinha tinha que

decidir por si mesma os caminhos a tomar, sem nenhum auxílio de sua raça. O rapaz,

porém, era um caçador adormecido. E por mais ínfima que fosse a presa o grito de

conquista havia soado.

Sozinha no mundo, sem pai nem mãe, ela corria, arfava, muda, concentrada. Às

vezes, na fuga, pairava ofegante num beiral de telhado e enquanto o rapaz galgava

outros com dificuldade tinha tempo de se refazer por um momento. E então parecia tão

livre.

Estúpida, tímida e livre. Não vitoriosa como seria um galo em fuga. Que é que havia nas suas vísceras que fazia dela um ser? A galinha é um ser. É verdade que não se poderia contar com ela para nada. Nem ela própria contava consigo, como o galo crê na sua crista. Sua única vantagem é que havia tantas galinhas que morrendo uma

surgiria no mesmo instante outra tão igual como se fora a mesma.

Afinal, numa das vezes em que parou para gozar sua fuga, o rapaz alcançou-a.

Entre gritos e penas, ela foi presa. Em seguida carregada em triunfo por uma asa através

das telhas e pousada no chão da cozinha com certa violência. Ainda tonta, sacudiu-se

um pouco, em cacarejos roucos e indecisos. Foi então que aconteceu. De pura afobação

a galinha pôs um ovo. Surpreendida, exausta. Talvez fosse prematuro. Mas logo depois,

nascida que fora para a maternidade, parecia uma velha mãe habituada. Sentou-se

sobre o ovo e assim ficou respirando, abotoando e desabotoando os olhos. Seu coração,

tão pequeno num prato, solevava e abaixava as penas, enchendo de tepidez aquilo que

nunca passaria de um ovo. Só a menina estava perto e assistiu a tudo estarrecida. Mal,

porém conseguiu desvencilhar-se do acontecimento, despregou-se do chão e saiu aos

gritos:

— Mamãe, mamãe, não mate mais a galinha, ela pôs um ovo! Ela quer o nosso

bem!

Todos correram de novo à cozinha e rodearam mudos a jovem parturiente.

Esquentando seu filho, esta não era nem suave nem arisca, nem alegre, nem triste, não

era nada, era uma galinha. O que não sugeria nenhum sentimento especial. O pai, a

mãe e a filha olhavam já há algum tempo, sem propriamente um pensamento qualquer.

Nunca ninguém acariciou uma cabeça de galinha. O pai afinal decidiu-se com certa

brusquidão:

— Se você mandar matar esta galinha nunca mais comerei galinha na minha

vida!

— Eu também! Jurou a menina com ardor. A mãe, cansada, deu de ombros.

Inconsciente da vida que lhe fora entregue, a galinha passou a morar com a

família. A menina, de volta do colégio, jogava a pasta longe sem interromper a corrida

para a cozinha. O pai de vez em quando ainda se lembrava: “E dizer que a obriguei a

correr naquele estado! ” A galinha tornara-se a rainha da casa. Todos, menos ela, o

sabiam. Continuou entre a cozinha e o terraço dos fundos, usando suas duas

capacidades: a de apatia e a do sobressalto.

Mas quando todos estavam quietos na casa e pareciam tê-la esquecido, enchiase de uma pequena coragem, resquícios da grande fuga — e circulava pelo ladrilho, o

corpo avançando atrás da cabeça, pausado como num campo, embora a pequena

cabeça a traísse: mexendo-se rápida e vibrátil, com o velho susto de sua espécie já

mecanizado.

Uma vez ou outra, sempre mais raramente, lembrava de novo a galinha que se

recortara contra o ar à beira do telhado, prestes a anunciar. Nesses momentos enchia

os pulmões com o ar impuro da cozinha e, se fosse dado às fêmeas cantar, ela não

cantaria mas ficaria muito mais contente. Embora nem nesses instantes a expressão de

sua vazia cabeça se alterasse. Na fuga, no descanso, quando deu à luz ou bicando

milho — era uma cabeça de galinha, a mesma que fora desenhada no começo dos

séculos.

Até que um dia a mataram, comeram-na e passaram-se anos.

Texto extraído do livro “Laços de Família”, Editora Rocco — Rio de Janeiro, 1998, pág. 30. Selecionado

por Ítalo Moriconi, figura na publicação “Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século”

Após a leitura do texto, respondam aos seguintes questionamentos:

1-Você concorda com o final do conto?

2-Depois de tanto sufoco que a galinha passou, merecia aquele final?

3-Que explicação poderíamos dar para o fato de a galinha ter colocado um ovo justamente quando ia ser pega e morta para ser servida em um almoço de domingo?

Responda as seguintes questões :


1- Quem narra o conto? Em que pessoa? Que elementos do texto justificam sua resposta?

2- Quem são os personagens do conto?

3- A personagem principal da narrativa é a galinha. Que trechos da narrativa afirmam isto?

4- Há conflito gerador no enredo da narrativa? Identifique com passagens do texto.

5- Onde as ações se desenvolvem?

6- Quando a história acontece?

7- No trecho: “lembrava de novo a galinha que se recortara contra o ar à beira do telhado”

(penúltimo parágrafo) é possível afirmar que a galinha assume característica de um ser

humano? Justifique sua resposta com trechos do Conto

 
 
 

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